A Importância da Doutrina Certa
A Importância da Doutrina Certa
A. W. Tozer
Seria
impossível exagerar na ênfase à importância da doutrina certa na vida do
cristão. Pensar corretamente acerca de todas as questões espirituais é
imperativo, se pretendemos viver corretamente. Como os homens não colhem uvas
dos espinheiros, nem figos dos abrolhos, assim o bom caráter não se desenvolve
do ensino errôneo. A palavra doutrina significa simplesmente crenças
sustentadas e ensinadas. A sacra tarefa de todos os cristãos, primariamente
como crentes e secundariamente como mestres de crenças religiosas, consiste em
assegurar-se de que estas crenças correspondem exatamente à verdade. Uma
precisa harmonia entre as crenças e os fatos constitui a legitimidade da
doutrina. Não podemos permitir-nos menos que isso.
Os
apóstolos não somente ensinavam a verdade, mas também pelejavam por sua pureza
contra toda e qualquer pessoa que a corrompesse. As epístolas paulinas resistem
a todos os esforços dos falsos mestres para introduzirem excentricidades
doutrinárias. As epístolas de João apresentam contundente condenação dos
mestres que importunavam a novel igreja negando a encarnação e lançando dúvidas
sobre a doutrina da Trindade; e Judas, em sua breve mas poderosa epístola, sobe
às culminâncias da m ais ardente eloqüência quando despeja desprezo sobre os
maus mestres que querem desviar os santos.
Cada
geração de cristãos deve examinar as suas crenças. Se bem que a verdade mesma é
imutável, as mentes dos homens são vasos porosos dos quais a verdade pode
escoar-se e nas quais o erro pode infiltrar-se, diluindo a verdade que contêm.
O coração humano é herético por natureza, e corre para o erro com a mesma
naturalidade com que um jardim vira mato. Tudo que um homem, uma igreja ou uma
denominação precisa, para garantir a deterioração da doutrina, é tomar tudo
como líquido e certo, e não fazer nada. O jardim negligenciado logo será
dominado pelas ervas daninhas; o coração que deixa de cultivar a verdade e de
arrancar o erro, em pouco tempo será um deserto teológico; a igreja ou
denominação que cresce descuidada no caminho da verdade, não demorará a ver-se
perdida e atolada em alguma baixada lodosa da qual não há como fugir.
Em
todos os campos do pensamento e das atividades dos homens a precisão é
considerada virtude. Enganar-se, ainda que ligeiramente, é atrair grave prejuízo,
senão a própria morte. Só no pensamento religioso a fidelidade à verdade é
vista como um defeito.Quando os homens lidam com coisas terrenas e temporais,
exigem a verdade; quando passam a considerar as coisas celestiais e eternas,
eles se fecham e hesitam, como se a verdade não pudesse ser descoberta ou não
tivesse a mínima importância.
Montaigne
dizia que o mentiroso é valente para com Deus e covarde para com os homens;
pois o mentiroso enfrenta a Deus e cede aos homens. Não é isso uma simples
prova da incredulidade? Não equivale a dizer que o mentiroso crê nos homens mas
não está convencido da existência de Deus, e está disposto a arriscar-se ao
desagrado de um Deus que talvez não exista, e não ao desagrado do homem, que
obviamente existe? Penso também que, por trás do descuido humano em religião,
está essa incredulidade básica e profunda.
O
cientista, o médico, o navegador tratam de matérias que sabem que são reais; e
por serem reais, o mundo exige que, tanto o mestre como o que faz o trabalho
prático sejam peritos no conhecimento delas. Somente do mestre de coisas
espirituais se requer que seja inseguro em suas crenças, ambíguo em seus
comentários e tolerante para com quaisquer opiniões religiosas expressas por
quem quer que seja, até mesmo pelo menos qualificado para ter alguma opinião.
A
nebulosidade sempre foi a marca do liberal. Quando as Sagradas Escrituras são
rejeitadas como a autoridade final quanto à crença religiosa, alguma coisa terá
de ser encontrada para tomar-lhe o lugar. Historicamente essa “alguma coisa”
foi a razão ou o sentimento; se foi o sentimento, o humanismo prevaleceu. Às
vezes houve uma mistura dos dois, como se pode ver atualmente nas igrejas
liberais.
Estas
não renunciam inteiramente à Bíblia, e tampouco creem nela completamente; o
resultado é um obscuro corpo de crenças que lembra mais um nevoeiro que uma
montanha, corpo nebuloso em que qualquer coisa pode ser verdadeira, mas não se
deve confiar em coisa alguma como certamente verdadeira. Já nos acostumamos às
sombrias lufadas de plúmbea névoa que passam por doutrina nas igrejas
modernistas, e delas nada de melhor esperamos, mas é causa de real alarme que
ultimamente a névoa começou a dar os seus primeiros passos em muitas igrejas
evangélicas.
De
algumas fontes anteriormente inatacáveis estão vindo agora vagos
pronunciamentos que consistem numa tímida mescla de Escritura, ciência e
sentimento humano que não faz jus a nenhum dos seus ingredientes, porque cada
qual se presta para anular os outros. Alguns dos nossos irmãos conservadores
parecem estar trabalhando sob a impressão de que são pensadores avançados
porque estão reconsiderando o evolucionismo e reavaliando várias doutrinas
bíblicas, ou até mesmo a inspiração divina; mas tão longe estão de serem
pensadores avançados que não passam de tímidos seguidores do modernismo – cinquenta
anos atrás do desfile. Pouco a pouco os cristãos conservadores destes dias
estão sofrendo lavagem cerebral. Uma prova disso é que grupos cada vez maiores
deles vão ficando com vergonha de serem achados inequivocamente ao lado da verdade. Eles dizem que creem, mas as suas
crenças foram diluídas a tal ponto que é impossível defini-las claramente.
As crenças bem definidas sempre foram acompanhadas de energia
moral. Os grandes santos sempre foram dogmáticos. Precisamos voltar agora mesmo
a um pacífico dogmatismo, capaz de sorrir ao mesmo tempo que se mantém
inflexível e firme na Palavra de Deus que vive e permanece para sempre.
Extraído
do livro Homem: Habitação de Deus, págs. 133-135.
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