A arte de "outrar-se"
Descobrir um outro que mora no outro.
A capacidade de outrar-se – diferenças como desafio para a prática do cuidado e aconselhamento pastoral.
Este relato tem como objetivo tecer considerações, observando escritos sobre a relação dos
conselheiros com o aconselhando e também consigo mesmo. Ainda da importância da
profissionalização da ajuda no contexto da igreja brasileira. Abordo o tema: o desafio de se colocar no lugar do outro, “outrar-se”.
Desempenhando a capacidade de outrar-se. Partindo da reflexão realizada pelo
escritor, poeta Fernando Pessoa, percebe-se que as diferenças existentes entre
os indivíduos, transforma-se em um florido campo de oportunidades, mas que não são
sempre aproveitadas. Por vezes, as interações são transformadas pela imperícia
das partes em não saber lidar com o diferente, em um verdadeiro campo minado.
O
“outramento” é uma expressão criado por Fernando Pessoa, e diz respeito ao
processo de diferenciação do Si, de se tornar outro “outrar-se”, sendo possível
a partir do momento que são desenvolvidas pelas partes competências motivadas
pela alteridade e o amor conforme evidenciado, por Jesus Cristo.
As
diferenças que distinguem as pessoas, sobretudo no âmbito da subjetividade, são
barreiras limitadora que atuam nas questões relacionadas com a prática da
ajuda, o aconselhamento pastoral. Daí a importância do tema abordado, na busca
de respostas debatem o impacto dessas questões, apresentam ferramentas e
contribuem com a reflexão sobre a atuação do conselheiro. A partir dessa
apresentação fomenta-se que na prática do aconselhamento pastoral,
relacionam-se pelo menos duas perspectivas: as diferenças como oportunidades e
sobre a necessidade de atividades de especialização e ou capacitação dos
cuidadores. Vislumbrando por fim equipar o conselheiro.
Os
aspectos que diferencia os indivíduos sejam elas culturais, eclesiásticos ou
sociais podem favorecer o trabalho no cuidado pastoral, ainda que em primeiro
momento provoque um mal-estar, sensação de insegurança ou bloqueios. Superadas
estas barreiras iniciais, por meio das vias do acolhimento, nasce a capacidade
de compreender a dor, o sofrimento do outro, bem como oportunizando a releitura
de si mesmo. Deixando de lado a superficialidade do momento, para uma relação
de compartilhamento profundo, porem somente alcançado quando vivido um acerto no
modo de captar a diferença, num reposicionamento interativo. Uma mudança em
como classificamos as impressões da pessoa, sobre afirma Arthur da Távola “se
formos capazes de romper a cristalização e ver e descobrir a pessoa em ângulos
novos, também ela se contagiará com a nossa descoberta”. Fala da possibilidade
de enxergar o outro além dos rótulos, das imprecisas impressões. Esta ação de
liberalidade atua de forma contagiosa, afetando o outro.
Detectar
a real pessoa demanda um processo bem elaborado e rico de valores, uma vez que
as diferenças principais estão na dimensão do invisível. A dificuldade de
conter-me diz Mary Rute “exige um trabalho de parto... é o próprio corpo que se
torna outro”.
É
argumentado sobre um grande potencial na diferenciação, mas também forte risco:
de “perda da identidade atual”; afetado pelo desassossego que a mesma causa,
paralisamos o conhecimento sobre o outro, e fechamos a porta para o outro nos
descobrir. É necessário que também ocorra uma mudança em mim, para que na
interação com outro descubra partes desconhecidas em mim.
Segundo
Suely Rolnik (1995), conclusivamente é isto que nos faz adoecer: “calar a
diferença, calcificar o existente, impotencializar a vida, travar a
processualidade do ser, brecar a história”.
Na
leitura “descobri um outro que mora no outro, e um outro que mora em mim”, além
dos rótulos que fabricamos, dos rechaços e da neutralidade nas relações.
Essa
descoberta é um desafio. Porém, alicerça e enriquece a nossa visão e
perspectiva do outro. Aprendo que “não basta o outro mudar”, quando mudamos
descobrimos novos horizontes, colore-se outras telas da nossa existência, e pavimenta
a oportunidade do outro se redescobrir. No contexto da ajuda precisamos
descobrir a riqueza de se colocar no lugar do outro.
Ser um cristão, é outrar-se.
"Paz nO Caminho!"
Pr Formiga
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